24 febbraio 2009

A PRAIA

O sol esconde-se por de trás do mar tingindo de laranja e rosa e a areia branca só reflete, agora, a luz da lua naquela praia longínqua.
Aquela mulher lindíssima, de olhos da cor do cabelo azeviche, conhecida poucos minutos antes no bar, passa-lhe os dedos pelo cabelo e confessa-lhe, ao ouvido, desejos que nunca poderiam ser ditos em voz alta.Levanta-se e começa a despir a pouca roupa que lhe cobre o corpo voluptuoso. Começa pelo vestidinho azul que deixa transparecer o biquini vermelho reduzidíssimo. Ele pede-lhe para continuar e ela, obedientemente, continua até estar completamente nua ante os seus olhos. Depois de um curto silêncio, ela espera a sua iniciativa, o toque das suas mãos e dos seus lábios.
Ele, já não resistindo mais, abraça-a e caem na areia, agora escurecida, onde consumam o acto mais selvagem e fogoso, quiçá, de sempre. E assim permancem, por horas, até ao nascer do sol, num frenesim indescrítivel.
Ouve passos no corredor, muda a página e finge que lê uma folha com texto minúsculo e corrido. Sente-se corar mas já é demasiado tarde.
“Querido, ainda estás a trabalhar, a esta hora? Acordei e não te senti...”- diz-lhe, na penumbra, um vulto feminino, ostentando um pijama largo, azul, de flanela.
“Tinha que acabar a introdução do projecto. Mas já vou.”
“Não faças barulho para não acordares os miúdos.”
“Sim, querida.”
Beija a mulher na testa, desliga o computador e encaminha-se para o quarto.

O REALITY-SHOW

Raquel diz que quando passa na rua, ouve constantemente elogios e piropos, mais ou menos, simpáticos; Raquel diz que os colegas de trabalho, apesar de serem todos casados, são uns porcos e que se insinuam a ela através de piadas de “intervalo para café”; Raquel diz que o ex-namorado ainda não a conseguiu esquecer e que se contenta a vê-la sair para o trabalho, todos os dias, desde que ela acabou relação de forma explosiva, há 6 meses atrás, porque já não tinha paciência para ele; Raquel diz que a melhor amiga já não lhe liga há 3 semanas porque descobriu que o seu próprio namorado a olhava de uma forma especial e que, por isso, preferia mantê-la à distância, por segurança; Raquel diz que o instrutor de aeróbica, um italiano de 23 anos e de olhos verdes, já não sabe o que mais fazer para chamar a sua atenção e Raquel diz que os seus amigos, invariavelmente, homens, costumavam escrever-lhe mails para a lembrarem do quanto sentem a sua falta.
Raquel, 32 anos, 23:45 de um sábado, igual a todos os outros antes passados, desliga a televisão depois de ver mais uma sessão de Oprah, acaricia cada um dos seus 5 gatos, limpa a mesa dos restos de pizza entregue ao domicílio, abre o sofá-cama e deita-se. Amanhã, tem que se levantar cedo pois vais à casa dos pais, que todos os Domingos, prepararam um lugar a mais na mesa do almoço.

18 febbraio 2009

DUE FRATELLI

Dicevano di sentire costantemente delle voci. E quando non erano voci, avvertivano presenze. Chiesero chi fosse presente in sala . Passarono cinque minuti prima che qualcuno gli rispondesse . Ma la risposta non li aveva soddisfatti. Si muovevano come in uno stato di trance cercando di capire quale fosse il messaggio che la voce stesse loro comunicando.Ma non ebbero nessuna chiara risposta. Da quando erano nati comunicavano con le voci.Da quando erano nati avvertivano presenze. Quando la gente li vedeva, aveva paura di loro.. Così la prima voce gli disse che avrebbero dovuto prendere un treno alle dodici del giorno dopo ma la seconda voce invece li distolse. Ne entrò allora una terza ,la quale cercò di trovare una soluzione tra le due precedenti discordanti. Una presenza d’improvviso li fece spettinare i capelli e una voce disse loro di rimetterseli a posto. Una nuova presenza li trascinò di colpo, in cucina. Non opposero resistenza. Una voce disse loro,allora, di preparare la cena per il gatto. Ma una presenza ancora più invadente li trascinò all’ingresso di casa e li costrinse ad infilarsi il cappotto e il cappello, sbattendoli violentemente fuori dalla porta di casa. Mentre camminavano in strada, presenze e voci aumentavano sempre di più, assillandoli su verso quale direzione fossero dovuti andare, su quali passanti avessero dovuto guardare,su dove si fossero dovuti fermare, a chi avessero dovuto sorridere e a chi invece lanciare una occhiataccia. Quando ecco che una potente e misteriosa presenza li fece entrare di forza in un antico palazzo color verde oliva, all’esterno del quale vi era un’insegna con su scritto: ‘CENTRO CULTURALE PER CIECHI E SORDOMUTI’.

AS FLORES E A CARNE

Ela que era vegetariana, queria um molho de mal-me-queres para a jarra da mesa cozinha.
Foi ao talho convicta de que aí encontraria as flores.
O talhante olhou para ela, incrédulo, mas disse-lhe, gentilmente, que não tinha flores.
Sem olhar para ele, ela foi-se embora.
Passados uns dias, achou que uma planta de camomila ficaria bem no seu quintal.
Atravessou de novo toda a cidade e no mesmo talho, pediu a planta que procurava.
O mesmo talhante, tocado pela vergonha alheia, disse-lhe, em modo ainda educado, que que ele só tinha bifes, salsichas e codornizes e que se ela queria flores talvez fosse melhor ir ao florista. Ele só a poderia ajudar no caso de ela querer carne.
Ela não respondeu e saíu.
Dois meses depois, teve a ideia de comprar uma sardinheira para a janela da sala.
Pegou no carro e em hora de ponta levou 2 horas a chegar ao destino. O mesmo talho.
O talhante já sem paciência, nem perdeu tempo a ouvir o seu pedido. Vermelho de raiva, soltou um grito dizendo-lhe que já estava farto de a ver sempre a fazer pedidos absurdos que ele, de forma nenhuma, poderia satisfazer. Proíbiu-a de a entrar no seu talho. De facto, disse-lhe que nunca mais a queria voltar ver.
Agora, ela diz que é vegetariana porque o talhante se recusa a vender-lhe carne que ela nunca quis comprar.r

16 febbraio 2009

LO SPAVENTAPASSERI

Gli avevano fatto credere che era la cicogna a portare i bambini. Ma un giorno ne vide uno uscire dalla pancia della madre.

Gli avevano fatto credere che era Babbo Natale a portare i regali ai bambini. Ma un giorno si accorse che Babbo Natale aveva lo stesso dente rotto di suo padre.

Poi gli fecero credere che il figlio di dio camminava sulle acque. Ma quando provò a farlo lui, finì in reparto rianimazione. Gli fecero credere che l’Amore durava per sempre. Ma quando incontrò una donna, dopo un mese era già andata via con un altro. Gli fecero credere che nella vita contano i soldi. Ma fu costretto a vendere anche le sue mutande per non essere perseguitato dai creditori. Gli fecero credere che l’Uomo è l’essere più evoluto. Ma ben presto si accorse che non sapeva neanche volare. Gli avevano fatto credere che il lavoro nobilita l’uomo. Ma poi entrò a lavorare in fabbrica e perse una mano. Gli avevano fatto credere troppe cose. Ed ora che potrebbe credere a quello che gli pare ha scelto di starsene là, in mezzo al campo, a spaventare i passeri.

O BOLO

Era Domingo e estava sol. Graça levantou-se da cama às 7 horas como em todos os outros dias mas este era um dia especial. Uma vez por mês, o seu neto Jorge vinha-a visitar. Normalmente levava São, a namorada, a segunda que lhe tinha conhecido. Segundo Graça, São era uma rapariga vivida e aberta que lhe custava a aceitar. Não achava de todo que fosse rapariga para o seu Jorge, rapaz sensível e recatado, de poucas falas.

Como sempre, foi à pastelaria da Dona Luísa comprar o bolo dominical que costumava servir com o chá, normalmente de verbena.

Entrou e estava uma fila de 6 pessoas, o que era estranho acontecer àquela hora da manhã. Teve que esperar durante 20 minutos e , entretanto, só esperava que o bolo de bolacha – o preferido do seu neto – não se tivesse acabado. Finalmente, chegou a sua vez. ‘Credo!’- pensou. ‘já não há bolo de bolacha!’

Voltou para casa de mãos vazias. Pensou ainda comprar o único bolo que a pastelaria ainda tinha depois daquela enchente mas tinha receio que o seu Jorge não gostasse de alperce. Para além disso, era mais caro que o bolo de bolacha e a pensão mínima que auferia não lhe dava para esses luxos.

Perto das 4, preparou a mesmo bom chá de verbena, saído da mesma lata laranja guardada no cimo da chaminé, ajeitou as almofadas no lugar do seu Jorge e sentou-se à espera que tocassem à campainha.

O gato dormia enroscado, em frente ao calorífero.

Tocaram e Graça levantou-se tão depressa quanto os seus 79 anos lhe permitiam.

Era o seu Jorge e...a São.

Beijinhos, abraços e sorrisos e o mesmo ritual de sempre.

Graça foi buscar o chá.

Desculpou-se dizendo que, naquele dia, não haveria bolo de bolacha.

Serviu o chá, dois dedos de conversa , ‘como estão a ir os estudos’, ‘o teu pai está bem’, ‘hoje fez mais frio que ontem mas menos que na semana passada’.

Jorge e São levantaram-se encaminharam-se para a porta.

Hoje nem esperaram pelo anoitecer

Graça ficou sozinha com o bule meio de chá.

E começou a esperar pelo próximo Domingo em que teria companhia, pedindo por tudo que a D.Luísa tivesse bolo de bolacha. Talvez fosse melhor começar a encomendar com antecedência.

15 febbraio 2009

A PÍLULA

O almoço tinha sido copioso e num turpor vespertino, fechou os olhos.
A sala era branca e brancos eram os vultos que passavam no corredor. Um corredor longo e brilhante que lhe era familiar.
Era gordo, inchado à custa dos comprimidos que aqueles vultos brancos insistiam em dar-lhe 3 vezes ao dia. Aquelas pílulazinhas multicores que lhe confundiam as imagens na sua mente, transformando algumas em borrões impressionistas, que se desvaneciam em segundos.
Hoje tinha-se lembrado de fazer um teatro de marionetas com um par de meias sujas que a senhora de limpeza se tinha esquecido de recolher do seu quarto. A meia esquerda era a mãe, a meia direita, mais escurecida, era o pai. O filho era o copo de iogurte de pedaços que lhe tinham dado ao lanche. Ao longe, conseguia perceber os gritos do Senhor José que, recusava sempre a dose de comprimidos que os vultos brancos lhe levavam à tarde. Hoje, como sempre.
Batem à porta. Uma e outra vez.
Abre os olhos. É Rosa que diz:‘Sr.Doutor, está aqui delegado de propaganda médica que me disse que queria receber.’
‘Sim, sim. Mande-o entrar.’
Em cima da secretária, junto a um tinteiro sem tinta, os cartões de visita: António Cunha Macedo – Psiquiatra

LA CAMPANA

Era da molto tempo che non toccava un uomo. Eppure sapeva che ogni uomo sarebbe caduto ai suoi piedi. Una focosa voglia , un desiderio irrefrenabile, un ardore incontrollabile. Si passò le dita sulle sue labbra più volte, i suoi occhi ardevano di voglie indicibili. Accavallò le gambe, sudate e calde di fantasie che non bastavano ai suoi sensi. Sudava dappertutto. Grondava di un calore inaudito. Dopo essersela sbottonata a metá, si passò le mani sul petto, infilandosele nella sua camicetta nera,le sue labbra si erano fatte gonfie e più rosse, tanta era la passione che aveva contenuto da troppo tempo e che ora era impossibile trattenere. Fantasticava di poter utilizzare quelle sue labbra carnose su corpi e pelli virili, sognava di poter passare le sue unghie smaltate su schiene muscolose e villose, e poi chissà magari ricevere il piacere che da tempo continuava a ossessionargli le sue fantasie più bollenti. Non resistette più, infilò la sua mano in mezzo alle sue gambe magre, prese quel giornale di uomini nudi ed attori famosi e si iniziò a toccare. Mancavano pochi attimi al raggiungimento dell’amplesso tanto voluto, che iniziò a pensare a decine di uomini in fila, in ginocchio davanti al suo frutto proibito. Il sudore aumentò, il calore si fece fuoco ardente, la fiamma alimentò la voglia del peccato piu’ indecente. Un secondo ed avrebbe raggiunto l’estasi tanto ambita. Quand’ecco un suono, un rintocco di una campana interruppe il momento desiderato. D’un tratto s’accorse che era ormai troppo tardi e doveva fare in fretta. Sudava ancora quando si mise il vestito domenicale e si infilò di corsa le scarpe e l’anello da cerimonia. Quando apparve al suo pubblico si accorse che la gente stava invocando il suo nome. Era in ritardo all’appuntamento. E pensando ancora a quei corpi nudi, sudati compiere atti peccaminosi con lingue e pelli e mani e dita e bocche e gemiti e parole proibite, si schiarì la voce e pronunciò ai presenti :’ Nel nome del Padre , del Figlio e dello Spirito Santo. La Pace sia Con Voi’. ‘E’ con il tuo spirito’, gli risposero in coro.