13 febbraio 2009

O PARDAL

Atravessou o jardim em direcção à casa que todos os vizinhos evitavam há muitas gerações por considerá-la assombrada. Aquela era a sua casa. E era um descanso a reputação maldita que a sua casa tinha adquirido graças a alguns relatos de de hippies do quarteirão que, durante os anos 60 sob,muito seguramente, o efeito de drogas psicotrópicas, juravam ter visto uma mula sem cabeça a espreitar da janela do varadim do terceiro andar.
Entra pela porta que deixou entreaberta e olha para a parede descascada, cor alperce onde está o retrato, muito vintage, do seu único amor, aquele cuja memória ainda o aquecia nos entardeceres invernais. É um ritual olhar o retrato sempre que entra em casa, como que se esperasse que este tivesse ganho vida no entrentanto.
Dirige-se à cozinha e, por entre, os despojos de alguns pires caídos do peciché – quiçá devido a algum rato que lhe tivesse passado inadvertido- encontra um pardal morto há pouco, talvez de velhice ou cansaço ou de ambos.
Era bom demais para ser verdade. Anos e anos de esforço à hora das refeiçoes e agora, aquela benção dos céus . Quase melhor que a ressurreição do seu único amor.
De um golpe, engole o pássaro, dele restando apenas uma pena castanha que permanece entre os cacos do chão.
Volta para trás, em direcção à sala, deita-se na sua toalha, lambe as patas e o pêlo branco do peito e ronrona até adormecer.

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