15 febbraio 2009

A PÍLULA

O almoço tinha sido copioso e num turpor vespertino, fechou os olhos.
A sala era branca e brancos eram os vultos que passavam no corredor. Um corredor longo e brilhante que lhe era familiar.
Era gordo, inchado à custa dos comprimidos que aqueles vultos brancos insistiam em dar-lhe 3 vezes ao dia. Aquelas pílulazinhas multicores que lhe confundiam as imagens na sua mente, transformando algumas em borrões impressionistas, que se desvaneciam em segundos.
Hoje tinha-se lembrado de fazer um teatro de marionetas com um par de meias sujas que a senhora de limpeza se tinha esquecido de recolher do seu quarto. A meia esquerda era a mãe, a meia direita, mais escurecida, era o pai. O filho era o copo de iogurte de pedaços que lhe tinham dado ao lanche. Ao longe, conseguia perceber os gritos do Senhor José que, recusava sempre a dose de comprimidos que os vultos brancos lhe levavam à tarde. Hoje, como sempre.
Batem à porta. Uma e outra vez.
Abre os olhos. É Rosa que diz:‘Sr.Doutor, está aqui delegado de propaganda médica que me disse que queria receber.’
‘Sim, sim. Mande-o entrar.’
Em cima da secretária, junto a um tinteiro sem tinta, os cartões de visita: António Cunha Macedo – Psiquiatra

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