16 febbraio 2009

O BOLO

Era Domingo e estava sol. Graça levantou-se da cama às 7 horas como em todos os outros dias mas este era um dia especial. Uma vez por mês, o seu neto Jorge vinha-a visitar. Normalmente levava São, a namorada, a segunda que lhe tinha conhecido. Segundo Graça, São era uma rapariga vivida e aberta que lhe custava a aceitar. Não achava de todo que fosse rapariga para o seu Jorge, rapaz sensível e recatado, de poucas falas.

Como sempre, foi à pastelaria da Dona Luísa comprar o bolo dominical que costumava servir com o chá, normalmente de verbena.

Entrou e estava uma fila de 6 pessoas, o que era estranho acontecer àquela hora da manhã. Teve que esperar durante 20 minutos e , entretanto, só esperava que o bolo de bolacha – o preferido do seu neto – não se tivesse acabado. Finalmente, chegou a sua vez. ‘Credo!’- pensou. ‘já não há bolo de bolacha!’

Voltou para casa de mãos vazias. Pensou ainda comprar o único bolo que a pastelaria ainda tinha depois daquela enchente mas tinha receio que o seu Jorge não gostasse de alperce. Para além disso, era mais caro que o bolo de bolacha e a pensão mínima que auferia não lhe dava para esses luxos.

Perto das 4, preparou a mesmo bom chá de verbena, saído da mesma lata laranja guardada no cimo da chaminé, ajeitou as almofadas no lugar do seu Jorge e sentou-se à espera que tocassem à campainha.

O gato dormia enroscado, em frente ao calorífero.

Tocaram e Graça levantou-se tão depressa quanto os seus 79 anos lhe permitiam.

Era o seu Jorge e...a São.

Beijinhos, abraços e sorrisos e o mesmo ritual de sempre.

Graça foi buscar o chá.

Desculpou-se dizendo que, naquele dia, não haveria bolo de bolacha.

Serviu o chá, dois dedos de conversa , ‘como estão a ir os estudos’, ‘o teu pai está bem’, ‘hoje fez mais frio que ontem mas menos que na semana passada’.

Jorge e São levantaram-se encaminharam-se para a porta.

Hoje nem esperaram pelo anoitecer

Graça ficou sozinha com o bule meio de chá.

E começou a esperar pelo próximo Domingo em que teria companhia, pedindo por tudo que a D.Luísa tivesse bolo de bolacha. Talvez fosse melhor começar a encomendar com antecedência.

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