24 febbraio 2009
A PRAIA
Aquela mulher lindíssima, de olhos da cor do cabelo azeviche, conhecida poucos minutos antes no bar, passa-lhe os dedos pelo cabelo e confessa-lhe, ao ouvido, desejos que nunca poderiam ser ditos em voz alta.Levanta-se e começa a despir a pouca roupa que lhe cobre o corpo voluptuoso. Começa pelo vestidinho azul que deixa transparecer o biquini vermelho reduzidíssimo. Ele pede-lhe para continuar e ela, obedientemente, continua até estar completamente nua ante os seus olhos. Depois de um curto silêncio, ela espera a sua iniciativa, o toque das suas mãos e dos seus lábios.
Ele, já não resistindo mais, abraça-a e caem na areia, agora escurecida, onde consumam o acto mais selvagem e fogoso, quiçá, de sempre. E assim permancem, por horas, até ao nascer do sol, num frenesim indescrítivel.
Ouve passos no corredor, muda a página e finge que lê uma folha com texto minúsculo e corrido. Sente-se corar mas já é demasiado tarde.
“Querido, ainda estás a trabalhar, a esta hora? Acordei e não te senti...”- diz-lhe, na penumbra, um vulto feminino, ostentando um pijama largo, azul, de flanela.
“Tinha que acabar a introdução do projecto. Mas já vou.”
“Não faças barulho para não acordares os miúdos.”
“Sim, querida.”
Beija a mulher na testa, desliga o computador e encaminha-se para o quarto.
O REALITY-SHOW
Raquel, 32 anos, 23:45 de um sábado, igual a todos os outros antes passados, desliga a televisão depois de ver mais uma sessão de Oprah, acaricia cada um dos seus 5 gatos, limpa a mesa dos restos de pizza entregue ao domicílio, abre o sofá-cama e deita-se. Amanhã, tem que se levantar cedo pois vais à casa dos pais, que todos os Domingos, prepararam um lugar a mais na mesa do almoço.
18 febbraio 2009
DUE FRATELLI
AS FLORES E A CARNE
Foi ao talho convicta de que aí encontraria as flores.
O talhante olhou para ela, incrédulo, mas disse-lhe, gentilmente, que não tinha flores.
Sem olhar para ele, ela foi-se embora.
Passados uns dias, achou que uma planta de camomila ficaria bem no seu quintal.
Atravessou de novo toda a cidade e no mesmo talho, pediu a planta que procurava.
O mesmo talhante, tocado pela vergonha alheia, disse-lhe, em modo ainda educado, que que ele só tinha bifes, salsichas e codornizes e que se ela queria flores talvez fosse melhor ir ao florista. Ele só a poderia ajudar no caso de ela querer carne.
Ela não respondeu e saíu.
Dois meses depois, teve a ideia de comprar uma sardinheira para a janela da sala.
Pegou no carro e em hora de ponta levou 2 horas a chegar ao destino. O mesmo talho.
O talhante já sem paciência, nem perdeu tempo a ouvir o seu pedido. Vermelho de raiva, soltou um grito dizendo-lhe que já estava farto de a ver sempre a fazer pedidos absurdos que ele, de forma nenhuma, poderia satisfazer. Proíbiu-a de a entrar no seu talho. De facto, disse-lhe que nunca mais a queria voltar ver.
Agora, ela diz que é vegetariana porque o talhante se recusa a vender-lhe carne que ela nunca quis comprar.r
16 febbraio 2009
LO SPAVENTAPASSERI
Gli avevano fatto credere che era la cicogna a portare i bambini. Ma un giorno ne vide uno uscire dalla pancia della madre.
Gli avevano fatto credere che era Babbo Natale a portare i regali ai bambini. Ma un giorno si accorse che Babbo Natale aveva lo stesso dente rotto di suo padre.
Poi gli fecero credere che il figlio di dio camminava sulle acque. Ma quando provò a farlo lui, finì in reparto rianimazione. Gli fecero credere che l’Amore durava per sempre. Ma quando incontrò una donna, dopo un mese era già andata via con un altro. Gli fecero credere che nella vita contano i soldi. Ma fu costretto a vendere anche le sue mutande per non essere perseguitato dai creditori. Gli fecero credere che l’Uomo è l’essere più evoluto. Ma ben presto si accorse che non sapeva neanche volare. Gli avevano fatto credere che il lavoro nobilita l’uomo. Ma poi entrò a lavorare in fabbrica e perse una mano. Gli avevano fatto credere troppe cose. Ed ora che potrebbe credere a quello che gli pare ha scelto di starsene là, in mezzo al campo, a spaventare i passeri.
O BOLO
Era Domingo e estava sol. Graça levantou-se da cama às 7 horas como em todos os outros dias mas este era um dia especial. Uma vez por mês, o seu neto Jorge vinha-a visitar. Normalmente levava São, a namorada, a segunda que lhe tinha conhecido. Segundo Graça, São era uma rapariga vivida e aberta que lhe custava a aceitar. Não achava de todo que fosse rapariga para o seu Jorge, rapaz sensível e recatado, de poucas falas.
Como sempre, foi à pastelaria da Dona Luísa comprar o bolo dominical que costumava servir com o chá, normalmente de verbena.
Entrou e estava uma fila de 6 pessoas, o que era estranho acontecer àquela hora da manhã. Teve que esperar durante 20 minutos e , entretanto, só esperava que o bolo de bolacha – o preferido do seu neto – não se tivesse acabado. Finalmente, chegou a sua vez. ‘Credo!’- pensou. ‘já não há bolo de bolacha!’
Voltou para casa de mãos vazias. Pensou ainda comprar o único bolo que a pastelaria ainda tinha depois daquela enchente mas tinha receio que o seu Jorge não gostasse de alperce. Para além disso, era mais caro que o bolo de bolacha e a pensão mínima que auferia não lhe dava para esses luxos.
Perto das 4, preparou a mesmo bom chá de verbena, saído da mesma lata laranja guardada no cimo da chaminé, ajeitou as almofadas no lugar do seu Jorge e sentou-se à espera que tocassem à campainha.
O gato dormia enroscado, em frente ao calorífero.
Tocaram e Graça levantou-se tão depressa quanto os seus 79 anos lhe permitiam.
Era o seu Jorge e...a São.
Beijinhos, abraços e sorrisos e o mesmo ritual de sempre.
Graça foi buscar o chá.
Desculpou-se dizendo que, naquele dia, não haveria bolo de bolacha.
Serviu o chá, dois dedos de conversa , ‘como estão a ir os estudos’, ‘o teu pai está bem’, ‘hoje fez mais frio que ontem mas menos que na semana passada’.
Jorge e São levantaram-se encaminharam-se para a porta.
Hoje nem esperaram pelo anoitecer
Graça ficou sozinha com o bule meio de chá.
E começou a esperar pelo próximo Domingo em que teria companhia, pedindo por tudo que a D.Luísa tivesse bolo de bolacha. Talvez fosse melhor começar a encomendar com antecedência.
15 febbraio 2009
A PÍLULA
A sala era branca e brancos eram os vultos que passavam no corredor. Um corredor longo e brilhante que lhe era familiar.
Era gordo, inchado à custa dos comprimidos que aqueles vultos brancos insistiam em dar-lhe 3 vezes ao dia. Aquelas pílulazinhas multicores que lhe confundiam as imagens na sua mente, transformando algumas em borrões impressionistas, que se desvaneciam em segundos.
Hoje tinha-se lembrado de fazer um teatro de marionetas com um par de meias sujas que a senhora de limpeza se tinha esquecido de recolher do seu quarto. A meia esquerda era a mãe, a meia direita, mais escurecida, era o pai. O filho era o copo de iogurte de pedaços que lhe tinham dado ao lanche. Ao longe, conseguia perceber os gritos do Senhor José que, recusava sempre a dose de comprimidos que os vultos brancos lhe levavam à tarde. Hoje, como sempre.
Batem à porta. Uma e outra vez.
Abre os olhos. É Rosa que diz:‘Sr.Doutor, está aqui delegado de propaganda médica que me disse que queria receber.’
‘Sim, sim. Mande-o entrar.’
Em cima da secretária, junto a um tinteiro sem tinta, os cartões de visita: António Cunha Macedo – Psiquiatra
LA CAMPANA
O SMS
Paula, de natureza, considerava-se bastante ciumenta, facto que encarava com alguma vergonha, já que, tal como a sua psicóloga, lhe dizia ‘ninguém tem o direito de ser ciumento com outro ser humano’.
No entanto, não podia deixar de pensar que Luís se comportava de forma estranha de algum tempo àquela parte. Chegava cada vez mais tarde, não respondia aos seus telefonemas à hora de almoço e insitia em manter uma dieta graças à qual já tinha emagrecido 22 kilos nos últimos 3 meses.
Luís nunca se tinha importado com a gordura, mesmo quando, uma vez, tendo adormecido no sofá, rolou, inadvertidamente para cima de Lourdes, a caniche que era a menina dos olhos de Luís, quase asfixiando a cadelinha que foi salva por Paula que chegou a tempo da casa da vizinha.
Que mulher? Que mulher teria encantado o seu marido Luís ao ponto de este já nem sequer se lhe insinuar , nas noites de domingo, na cama, quando o Benfica ganhava ao Sporting de Braga.
Que mulher? Que encantos? Que segredo Luís lhe escondia? Seria Joana, a nova estagiária que Luís tinha mencionado naquela terça-feira, 2 meses e meio atrás? Seria uma das donas das mercearias a quem Luís fornece congelados? Seria aquela vizinha bielorussa que encontram no café, quando lá vao sábado à tarde?
Paula analisa o telemóvelde Luís pela enésima vez e encontra um sms que tudo revela: MEU AMOR, DEIXÁSTE O TUTU FUSCHIA NA CASA DE BANHO. SE NAO FOSSE O TEU FERNADO O QUE SERIA DE TI?
Paula podia enfim descansar. Não era uma mulher que lhe tinha roubado o seu Luís. Era Fernando, o dono da loja de informática onde Luís insistia em levar o seu laptop devido a um vírus que teimava em não desaparecer.
Hoje, vivem os três felizes no T2 em Odivelas que Luís herdou da mãe e que é muito mais amplo que o T0 no qual viviam no Cacém.
IL CARRELLO
Oggi Piero fa il venditore ambulante coi Rumeni e vende dvd pirata a via dell’Anonimato. Quando i rumeni lo trovarono, in un carrello del supermercato, gli chiesero come si chiamava e lui rispose che era troppo piccolo per saperlo
13 febbraio 2009
O PARDAL
Entra pela porta que deixou entreaberta e olha para a parede descascada, cor alperce onde está o retrato, muito vintage, do seu único amor, aquele cuja memória ainda o aquecia nos entardeceres invernais. É um ritual olhar o retrato sempre que entra em casa, como que se esperasse que este tivesse ganho vida no entrentanto.
Dirige-se à cozinha e, por entre, os despojos de alguns pires caídos do peciché – quiçá devido a algum rato que lhe tivesse passado inadvertido- encontra um pardal morto há pouco, talvez de velhice ou cansaço ou de ambos.
Era bom demais para ser verdade. Anos e anos de esforço à hora das refeiçoes e agora, aquela benção dos céus . Quase melhor que a ressurreição do seu único amor.
De um golpe, engole o pássaro, dele restando apenas uma pena castanha que permanece entre os cacos do chão.
Volta para trás, em direcção à sala, deita-se na sua toalha, lambe as patas e o pêlo branco do peito e ronrona até adormecer.
LA LETTERA
Tra Trudy e il postino fu amore a prima vista: infatti Trudy montò le sue gambe in un momento di affettuosissima e focosa intimità. Lauren imbarazzata disse al postino di stare attento a quella cagnetta che già aveva sbranato il sindaco, la lavandaia, il barman e il postino che lavorava prima di lui. Ma egli non se ne curò e si lasciò sbranare da Trudy e fu così che la cagnetta ebbe un buon pasto dopo il caffè della mattina.
Lauren, finito di leggere anche la seconda lettera, si precipitò al telefono. Le lettere che le aveva portato il povero ormai defunto postino provenivano dallo stesso mittente, Helmut Von Lagerbach, un omaccione che Lauren conosceva bene. Egli infatti era stato il macellaio del rione Alloradopo laggiù a Nientècomepprima. Erano da poco passate le dieci. Lauren decise di chiamare Helmut Von Lagerbach per avere spiegazione su quelle lettere. Provò a chiamare 2 volte. E per due volte le rispose la suocera di Von Lagerbach, Conchita Chorizo Cabron, una peruana in pensione con otto nipoti e tre figli. Lo trovò al quarto tentativo. Lauren agitata raccontò tutto a Von Lagerbach che, preoccupatosi a sua volta, disse : ‘Cazzo!Ho sbagliato indirizzo!’.